segunda-feira, 6 de junho de 2011

Biutiful (Biutiful)

Javier Bardem é Uxbal, um herói trágico, pai de dois filhos, e à beira da morte. Ele luta contra uma realidade distorcida e um destino que trabalha contra ele, o impedindo de perdoar e amar. Está frente a frente com um mundo desestruturado e numa espiral decadente de degradação, mas tenta a todo custo manter a dignidade. Paralelamente, a história mostra a complexa situação dos imigrantes na Espanha.

De “biutiful” o filme não tem nada. O filme é escuro, é triste, é carregado, é opressor e mostra nua e cruamente a realidade de milhões e milhões de pessoas.
Uxbal é um recém separado, pai de dois filhos (Mateo de 7 e Ana, de 10 anos - excelente desempenho de ambos). Ele é médium e usa essa peculiaridade para ganhar um dinheirinho, ajudando o falecido (e a família) a encontrar a paz. Além disso, agencia o trabalho escravo de imigrantes chineses e explora imigrantes senegaleses como camelôs. Para tudo isso dar razoavelmente certo, ele mantém um contato na polícia (sim, Barcelona também tem policiais corruptos). E sabe aquele ditado que diz: quando o urubu está de azar, o de baixo defeca no de cima? Pois é, com tudo isso ele ainda descobre que tem pouco tempo de vida, pois o câncer de próstata se alastrou para os ossos e o fígado.
O mais interessante no filme é que mesmo com essa desgraceira toda, você não chora. Eu, pelo menos, não chorei - e olha que sou manteiga derretida. O que senti foi uma angustia, um aperto na garganta, um soco no estômago... O filme é um mal estar em cores escuras, cinzas e sujas. Chega a ser palpável... A claridade mesmo só vem com a aproximação da morte, mas a morte como sinônimo de libertação.
Enquanto essa libertação não chega, o filme é basicamente a morte em vida, a exclusão. A morte como ausência do amor, da amizade, da dignidade humana, da esperança, da razão, da própria vida. As várias situações desconfortáveis e opressoras não nos deixam esquecer, em um só instante, que se estamos em uma pior, poderíamos estar ainda mais ferrados. Guardada as devidas proporções, cada um de nós temos um pouco de Uxbal: o que queremos mesmo é a felicidade da nossa família, uma vida digna para todos e que, ao fim de nossos dias aqui na terra, não termos deixado nenhuma (ou muita) pendência karmica e, claro, não queremos que aqueles a quem amamos esqueçam de nós.
O oscarizado Javier Bardem continua not beautiful, mas a sua interpretação é tão visceralmente perfeita que é impossível desgrudar o nosso olhar dele. O cara é muito bom !
O filme é um pouco lento e, sinceridade, 147 minutos é muito tempo, ainda mais quando, ao final, algumas pontas continuam soltas. Mesmo assim é um filme interessante e que vale a pena assistir.

Nota: 7

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Biutiful (Biutiful)
Diretor: Alejandro González Iñárritu
Atores: Javier Bardem, Maricel Alvarez, Eduard Fernández
2011, drama

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