segunda-feira, 28 de março de 2011

Estômago

Na vida há os que devoram e os que são devorados. Raimundo Nonato, nosso protagonista, descobre um caminho à parte: ele cozinha. E é nas cozinhas de um boteco, de um restaurante italiano e de uma prisão - o que ele fez para acabar ali? - que Nonato vive sua intrigante história. E também aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados. Regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua parte - e eles sabem, mais do que ninguém, qual é a parte melhor. Uma fábula nada infantil sobre o poder, o sexo e a culinária.

Há muito eu tinha esse filme na fila de espera para ser visto, mas acabava sendo posto de lado, até que resolvi assistir. Putz, filmaço!
Alternando passado (a chegada de Nonato a São Paulo) e o presente (prisioneiro – apenas no final do filme descobrimos o porquê de sua prisão), somos apresentados ao protagonista Raimundo Nonato, um nordestino humilde que chega do interior a procura de uma vida melhor. Meio que sem querer ele acaba se destacando na delicada arte da culinária, ao mesmo tempo em que descobre a hierarquia do poder. É como a última frase da sinopse bem define: “Uma fábula nada infantil sobre o poder, o sexo e a culinária.”
Fiquei encantada com o ator baiano (salve a Bahia, que está caprichando cada vez mais nesse quesito) João Miguel, que interpreta o Raimundo. Ele não é um deus grego, mas tem um rosto tão bom, tão expressivo, que não dá nem para nos desviarmos da tela. Sem contar a atuação perfeita: simples, leve, natural, que cresce e que sutilmente vai mostrando a perda da inocência do personagem.
Na verdade todo o elenco estava afiadíssimo, mas tenho que destacar a Fabíula Nascimento como a prostituta gulosa Íria; o Babu Santana, como o impagável chefe de cela Bijiú; e Carlo Briani, como o italiano Giovanni, que ensinou a magia dos temperos e sabores da culinária ao atento ajudante Nonato.
O filme é um drama, mas muito bem humorado. Cenas engraçadas não faltaram. As minhas preferidas são: o gorgonzola catinguento, que foi obrigado a ficar fora da cela, junto com os tênis; o macarrão à putanesca que vira putavesga; e, claro, a sensacional narração da história do queijo gorgonzola, logo no início do filme.
O longa, inspirado no conto “Presos pelo Estômago”, de Lusa Silvestre (que assina, junto com Marcos Jorge, o argumento do filme), uma co-produção Brasil-Itália, feito com baixo orçamento, realmente me conquistou. Indico sem medo e sem receios, pois este filme é para ser saborosamente degustado com os olhos.

Nota: 10

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Estômago
Diretor: Marcos Jorge
Atores: João Miguel, Fabíula Nascimento, Babu Santana, Carlo Briani
2008, drama

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